Naquela tarde, Pedro Paulo chegou em casa em torno das 18.15, como sempre ocorria chegando da Fábrica de Tubos Nova Campos. Daquela vez não estava com aquela agilidade toda, numa autêntica olimpíada que aprimorava a cada dia - fazer três coisas ao mesmo tempo: folgar a gravata com a mão esquerda, desafivelar o cinto da calça, com a direita e com os pés, de forma alternada, jogar longe os seus sapatos.
Da cozinha, Beatriz, sua mulher gritava:
- Já chegou, Pedrinho, já vou levar sua bermuda.
Mas sua voz, já cansada pela vida, não chegou a ser claramente ouvida por Pedro Paulo. Uma forte dor lhe subia pelo braço esquerdo, precedida por uma forte dor de barriga além da sudorese que lhe molhava a testa e a camisa, que mal conseguira desabotoar. Ao chegar à sala com a bermuda na mão, Betriz se assustou!
- O que é isso, Pedrinho, você está tão pálido!
- Chame o Pronto Socorro, por favor, acho que estou morrendo!
Beatriz ficou por alguns segundos estatelada, com os braços estendidos. Como se fosse jogado por alguém, as bermudas lhe cairam das mãos. Olhando apavorada para aquele quadro, conseguiu chegar a um canto da sala, onde estava o seu telefone.
- Alô, Alô, é do Pronto Socorro. Por favor, meu marido esta sofrendo um enfarto, venham pelo amor de Deus socorrê-lo.
Colocou o telefone no gancho e correu de encontro ao marido, ajudando-lhe a folgar a gravata e a desabotoar a camisa, como se quisesse facilitar a penetração do ar. Mas o quadro de enfarto era realmente apavorante e ela não sabia o que fazer. 5 minutos já se passaram desde que tinha feita a ligação, pareciam uma eternidade. Olhando para o relógio que estava na parede da sala, mal percebeu 3 homens de branco que entraram em sua sala, dois deles empurando uma maca.
- Oh, graças a Deus, vocês chegaram!
- Minha senhora, se acalme já estamos levando o seu marido.
Como o casal participavam dos atendimentos do PSF (Programa da Saúde da Familia), do Governo Federal, Beatriz foi ao quarto, de onde voltou trazendo uma ficha, onde constavam os dados de Pedro, incluindo tipo sanguíneo, problemas alérgicos, enfim, um verdadeiro prontuário médico, onde sua saúde era acompanhada, de forma preventiva, pelo Programa a cargo da Prefeitura.
Pedro já não estava mais na sala, os paramédicos já o haviam levado para a ambulância, onde ela já estava ligado aos aparelhos de socorro, naquela verdadeira UTI móvel. Enquanto um recolhia seu sangue para os exames que seriam feitos ainda na viatura, o outro já estava ligando para o Hospital, passando todos os seus dados.
Sem trocar de roupa, Beatriz seguiu com eles na ambulância que com a sirene ligada, abria espaço por entre os carros daquela movimentada avenida. Não levou mais que 10 minutos, lá estavo o Hospital. O Pronto Socorro, nem parecia ser de um hospital municipal, muito pouco gente e nenhuma fila, apenas alguns seguranças e os atendentes . Na sua portaria uma equipe de Médicos e enfermeiros já o estava aguardando. Não demorou muito e Beatriz, foi barrada em uma porta de vidro, além da qual ela não poderia ir, por se tratar de da UTI para problemas cardíacos.
Ali, em frente à porta, ela ficou por um bom tempo, muito apreensiva. Afinal, aquele homem que tinha ultrapassado aquela porta era seu companheiro, por mais de 4o anos, e era mais que um marido - era seu amigo, uma das razões pela qual ainda tinha muita alegria em viver.
Pela sua cabeça, passaram os momentos felizes que eles juntos passaram, desde o tempo em que se conheceram na Faculdade de Economia, o casal de filhos que estavam trabalhando na Capital do Estado e os seus netos que tinham estado com eles no último fim de semana.
Enquanto aquele filme passava, seus olhos marejados, mal observaram que em pé à sua frente um homem de branco, com os seus cabelos grisalhos e uma máscara verde sobre o peito, a trazia de volta a realidade.
- A senhora é esposa dele?
- Sou sim, doutor, como ele está?
A rapidez no socorro, aliado ao fato de que ele já dera entrada no Hospital, com vários procedimentos médicos já realizados na UTI móvel, conseguiram contornar o enfarto.
- Fora de perigo, Dona Beatriz. Deve ficar uns dois dias em observação, depois ele vai ter alta.
O barulho do motor do carro, na varanda era tão forte, que parecia estar dentro da sala. Beatriz abriu seus olhos, como se não soubesse quem era e onde estava. Olhou para a televisão ligada a sua frente e a cena da sessão da tarde ajudou a voltar ao mundo do vivos.
Que droga, aquela feijoada que tinha comido no almoço a tinha feito cair em sono profundo.
- Marido, é você?!
Ainda bem que fora um sonho. Na realidade, seria um grande pesadelo.
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