sábado, 1 de agosto de 2009

ESTADO PADRASTO


Quase sempre me levanto às 5.00 horas, afinal como um sexagenário não tenho tanto sono e a pressa em viver faz com que sobrem horas nos meus dias. Vou ao velho bule metálico desativado adquirido de um antigo buffet onde filo R$6,40, entre moedas e zinabreadas e notas rotas e parto em direção à Padaria do amigo Samuka. Enquanto caminho, utilizo um dos meus fiéis neurônios (tenho dois um para ligar e outro para desligar) e começo a fazer as contas para saber se volto com tudo aquilo que planejei trazer para o magro desjejum. Estou levando R$1,40 para seis pães, R$1,70 para o leite em saquinho e R$2,30 para a velha margarina de 300 ml. Possivelmente eu represente 70% dos moradores do meu bairro que cumprem essa rotina diária. Muitos deles matam alguns dias ou semanas, pois nem todos tem um velho bule outra bugigana onde reservem uns trocados para cumprir esse ritual. Aí o jeito é o famoso café magro, ou o famoso café com lingua. Fico a imaginar o preço alto das coisas em relação ao baixo rendimendo da população e a acreditar que por mais subsídios que sejam dados ao trigo o preço do pão não cai.Além disso, o leite fugiu da convencional regulagem do mercado onde a procura e oferta ditam as normas, entra verão, volta inverno e a vaca não desce para o angola da várzea nem o preço do leite para um patamar razoável de consmo de cálcio. A margarina parece que permanece um pouco longe dessa realidade, mas também apesar de mais leve, pesa também no bolso. Ao chegar à Padaria, Samuka agarrado no seu inseparável piano alerta a um freguês que paga a sua conta, de que o leite subiu para 1,80. A atendente já estava a me entregar os 3 sacos plásticos com os meu pedido. Aí, ativei os meus dois neurônios e raciocinei. Devolvo um pão para fechar a conta, ou não levo o suco da vaca. Entreguei os meus 6,40 e fui embora com um pão a menos. De volta, o neurônio responsável pela minha memória, me desafiou, indagando: Você sabe quanto você pagou de imposto lá na padaria. Aí comecei a dar ouvidos a ele. É verdade, ele tem razão, mesmo com a isenção do IPI do pão até 2010, 1/3 do leite e da margarina é imposto além dos outros impostos indiretos, muita coisa é tirada da nossa boca e colocada na do Leão. Preferi pedir silêncio ao meu neurõnio, se continuasse com a discussão, certamente eu iria me revoltar mais ainda e estragar a minha primeira alimentação porque começariam a desfilar pela minha cabeça um elenco enorme de impostos injustos que nos são cobrados sem a contrapartida da prestação de um serviço por parte de um Estado que é Padrasto. Cheguei em casa e ao fechar o portão, de novo o meu neurônio deu uma sacaneada. Tá vendo aquela luz acesa ali naquele poste, Sabe que pagou a conta, seu troxa? É claro que eu sei, na minha conta, todo mês, descontam R$10,50 para ajudar a Rosinha a pagar a Taxa de Iluminação Pública. Talvez essa contribuição para ajudar a Rosinha que tem a Prefeitura mais pobre do Brasil, servisse para eu colocar no saco aquele pão que eu e muitos deixam de levar para casa e que certamente não vai faltar na mesa da Prefeita. Aí não teve jeito estava azedo o meu café da manhã.

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